A Realidade Oculta dos Influenciadores: O “Jogo do Tigrinho” e os Lucros Fabricados

O termo "jogo do tigrinho" refere-se a uma estratégia onde os influenciadores, principalmente aqueles ligados a mercados como o de investimentos, criam uma falsa percepção de lucro em seus perfis. A prática envolve simular ganhos substanciais em plataformas de trading e investimentos, exibindo screenshots de supostos resultados positivos. Essas postagens são frequentemente acompanhadas de legendas que destacam a habilidade do influenciador em "vencer o mercado" e acumular riquezas rapidamente.

No entanto, por trás desses gráficos aparentemente impressionantes, muitas vezes há uma realidade bem diferente. Investigadores descobriram que muitos desses influenciadores não estão de fato realizando operações financeiras reais, mas usando contas demo (simuladas) ou manipulando imagens para parecer que estão lucrando consistentemente. Esse comportamento enganoso não apenas distorce a percepção pública sobre a viabilidade e os riscos envolvidos nos investimentos, mas também pode ter implicações legais sérias.

No contexto das loterias, o termo "jogo do tigrinho" também pode ser aplicado, embora de forma distinta do seu uso tradicional em mercados financeiros. Nas loterias, especialmente nas redes sociais e entre grupos de jogadores, o “jogo do tigrinho” refere-se à prática de compartilhar apostas vencedoras ou bilhetes premiados, muitas vezes de maneira exagerada ou não verificada.

Exibição de Bilhetes Premiados

Muitos usuários de redes sociais, influenciadores e até mesmo jogadores individuais compartilham imagens de bilhetes premiados de loterias. Essas postagens são frequentemente acompanhadas por legendas que destacam grandes prêmios conquistados, criando uma impressão de sucesso contínuo no jogo.

Manipulação de Informações

Assim como no contexto financeiro, há casos em que as imagens de bilhetes premiados podem ser manipuladas ou falsificadas. Isso pode incluir o uso de bilhetes antigos, imagens de apostas não verificadas, ou até mesmo a alteração digital dos números vencedores.

Impacto na Percepção Pública

A prática do “jogo do tigrinho” nas loterias pode distorcer a percepção pública sobre as chances reais de ganhar grandes prêmios. As postagens frequentes de vitórias podem sugerir que ganhar na loteria é mais comum do que na realidade é, levando potencialmente a expectativas irrealistas entre os jogadores.

Quando os influenciadores divulgam ganhos de forma não condizente com a realidade, na conta demo, as pessoas se sentem motivadas a jogar. Segundo Eduardo Mero, delegado-geral adjunto da Polícia Civil de Alagoas que investiga casos como esse, "eles influenciaram muitas pessoas com informação falsa, sem informar de que se tratava de uma conta só demonstração".

Durante a investigação, a polícia encontrou conversas de tratativas entre influenciadores com agenciadores e as plataformas. Também foram obtidas planilhas em que eles demonstram materialmente como se dava esse acerto.

Os “jogos do tigrinho” são encontrados em plataformas clandestinas, não auditáveis e operam sem seguir regras definidas. Esta prática contrasta significativamente com as plataformas legalizadas de apostas, conhecidas como "bets".

De acordo com a Associação Nacional de Jogos e Loterias, as casas de apostas sérias que operam no Brasil estão em processo de regulamentação do mercado, implementando medidas para prevenir vícios entre os apostadores, promovendo a conscientização de que os jogos são para entretenimento, não para enriquecimento.

A associação também esclarece que, em relação a eventuais crimes cometidos por influenciadores que promovem os "jogos do tigrinho", existem regras claras de publicidade responsável. A nota ressalta que o "jogo do tigrinho" está numa categoria que pode ser operada por sites de apostas, desde que cumpridos requisitos legais, como informar previamente ao jogador o fator de multiplicação do prêmio em caso de ganho na aposta, garantindo que o apostador saiba antecipadamente quanto poderá receber.

Por outro lado, o Ministério da Fazenda declarou que, uma vez estabelecidos os critérios técnicos e jurídicos, os jogos serão submetidos à certificação por entidades competentes. Jogos que não passarem por essa certificação não serão considerados legais. O ministério enfatizou que o período de transição termina no final de 2024 e, a partir de 1º de janeiro de 2025, entrará em vigor o mercado regulado, no qual apenas os sites legais poderão oferecer jogos online certificados, auditáveis e sem manipulações que prejudiquem os apostadores.

O fenômeno do “jogo do tigrinho” entre influenciadores revela não apenas a sede por reconhecimento e status social nas redes sociais, mas também os perigos da desinformação digital. Para mitigar esses riscos, é essencial que os seguidores estejam cientes das armadilhas potenciais das mídias sociais e procurem fontes de informação confiáveis ao tomar decisões financeiras e/ou fazer suas apostas. Além disso, as plataformas digitais devem intensificar os esforços para monitorar e punir práticas enganosas, garantindo um ambiente mais seguro e transparente para todos os usuários.

Em última análise, o “jogo do tigrinho” nas loterias destaca não apenas a prevalência da prática de compartilhamento de sucessos, mas também a importância da transparência e da responsabilidade ao fazê-lo. Ao integrar essa reflexão nas práticas de divulgação nas redes sociais e entre influenciadores, podemos promover uma cultura mais realista em relação às loterias. Educar o público sobre as reais probabilidades de ganho e incentivar a verificação honesta de bilhetes premiados são passos cruciais para garantir que a participação nas loterias seja vista como um entretenimento justo e emocionante, sem exageros ou falsas expectativas.