Influenciadores Financeiros e Ofertas agressivas de Apostas Online: O Conflito Entre Ética e Oportunidade
Estudo revela que 95% dos influenciadores financeiros são contrários às apostas online, mas enfrentam propostas de publicidade com valores significativamente altos. Setor de apostas busca inserir-se como investimento, criando dilemas éticos.
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A Batalha dos Influenciadores Financeiros Contra as Apostas Online
O aumento das apostas online no Brasil tem gerado debates intensos e levantado questões éticas para influenciadores financeiros. A popularização desse mercado, impulsionada por ofertas agressivas e bem remuneradas, força muitos influenciadores a ponderarem sobre sua própria responsabilidade ao aceitar ou recusar contratos de publicidade. Em meio a esse cenário, um estudo recente da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e do Ibpad (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados) revelou que 95% dos influenciadores de finanças se posicionam contra as apostas online, criando conteúdos educativos e alertas para seus seguidores.
A Ética e as Ofertas: Quando as Apostas Se Apresentam como Investimento
Influenciadores que dedicam seu conteúdo a temas de finanças pessoais e investimentos estão recebendo propostas de apostas online (bets) com valores até dez vezes superiores ao que costumam ganhar com publicidade. Ao mesmo tempo, essas ofertas geram incômodo, pois associam as apostas ao conceito de investimento, que é visto por muitos como um campo de construção patrimonial sólida e planejamento financeiro.
De acordo com o estudo Finfluence, realizado pela Anbima, entre o segundo semestre de 2023 e o primeiro semestre de 2024, aumentou 28% o número de influenciadores financeiros que começaram a discutir o tema das apostas online. Esse aumento revela a pressão exercida pelo mercado de apostas sobre a indústria de influenciadores financeiros. A pesquisa destacou que dentro do pequeno grupo de influenciadores que aceitam parcerias com apostas online (5%), 58% recebem compensação financeira direta das empresas de apostas.
Caso em Foco: Charlesson Campos e sua Recusa às Bets
Charlesson Campos, conhecido como Doutor Equilíbrio, é um influenciador que se destacou ao rejeitar propostas das empresas de apostas. Campos, com um canal no YouTube e uma grande base de seguidores nas redes sociais, recebeu recentemente ofertas para promover jogos de apostas com alto retorno financeiro. As ofertas incluíam pagamentos de R$ 10 a R$ 20 por seguidor que aceitasse a recomendação e até uma porcentagem das perdas dos usuários. Campos calculou que, apenas com seus seguidores no YouTube, poderia lucrar pelo menos R$ 504 mil em um único mês — um valor muito superior ao que costuma receber por outras campanhas publicitárias.
No entanto, Charlesson recusou o acordo. Ele chegou a criar um conteúdo educativo expondo as táticas das apostas online para atrair influenciadores, alertando seus seguidores sobre o risco envolvido. "Minha mensagem é que é preciso ter paciência para construir patrimônio com solidez e não acreditar em fantasias. Quem vai atrás de fantasias, acaba na miséria," afirmou.
Bets, Lavagem de Dinheiro e Apostas de Alto Risco
Outro aspecto preocupante é a possível relação entre as apostas online e a lavagem de dinheiro. As propostas recebidas por Charlesson e outros influenciadores trazem uma estrutura onde o influenciador ganha uma porcentagem das perdas dos usuários, incentivando implicitamente o uso desenfreado da plataforma. Esses pagamentos fazem parte de um modelo de negócios que depende do uso contínuo das apostas e, em muitos casos, não informam os riscos financeiros que acompanham essa prática.
Além disso, a ANJL (Associação Nacional de Jogos e Loterias) declarou que alguns jogos, como o popular "jogo do tigrinho", são desenvolvidos por empresas reconhecidas mundialmente, mas não contratam influenciadores. A associação também destacou a importância de um jogo ser considerado exclusivamente entretenimento e nunca uma forma de investimento.
A Importância da Educação Financeira e o Papel da Anbima
Amanda Brum, gerente executiva de Comunicação, Marketing e Relacionamento com Associados da Anbima, observa que a associação não possui uma campanha ativa contra as apostas online, reconhecendo-as como uma forma legítima de entretenimento. No entanto, Brum ressalta que a Anbima enfatiza a educação financeira para esclarecer ao público que as apostas não são investimentos.
"Apostar deve ser visto como uma forma de diversão, enquanto o investimento é uma ferramenta para alcançar objetivos financeiros, realizar sonhos e construir um futuro estável. As apostas online, diferentemente dos investimentos, não oferecem segurança nem previsibilidade," explicou Brum.
Entre Apostas e Investimentos: Um Alerta Necessário
Segundo o estudo “Raio-X do Investidor Brasileiro”, publicado pela Anbima em 2023, cerca de 14% da população brasileira declarou ter feito pelo menos uma aposta online durante o ano. Esse número impressiona, pois equivale a aproximadamente 22 milhões de pessoas. O levantamento indica que a quantidade de apostadores online é maior do que a de investidores em ações ou fundos de investimento.
Esse dado revela uma tendência preocupante: mais brasileiros colocam dinheiro em apostas do que em investimentos tradicionais, o que, segundo Brum, é reflexo de uma compreensão equivocada sobre as apostas. A confusão entre aposta e investimento é o que impulsiona o setor a explorar o conceito de lucro fácil, principalmente em plataformas de influenciadores que são vistas como autoridades financeiras.
A Ação dos Influenciadores Financeiros Contra a Propaganda de Bets
Diante da pressão das apostas online e da constante atração de seus seguidores para essa prática, muitos influenciadores financeiros, como Charlesson Campos, estão desenvolvendo estratégias de conscientização. Esses influenciadores usam suas plataformas para divulgar as táticas de marketing enganosas das empresas de apostas e enfatizam que o verdadeiro investimento é baseado em planejamento, conhecimento e resiliência, e não em promessas de ganhos rápidos.
O Papel da Regulação e a Ética nas Parcerias de Influenciadores
A ascensão das apostas online no Brasil, especialmente com ofertas financeiras agressivas para influenciadores, destaca a necessidade urgente de um equilíbrio entre liberdade de mercado e regulação. Com o aumento das propostas financeiras e a confusão entre apostas e investimentos, os influenciadores enfrentam o dilema ético de recusar ganhos potencialmente altos para proteger sua credibilidade e os interesses de seus seguidores.
Por meio de uma abordagem de transparência e orientação, influenciadores como Charlesson Campos conseguem equilibrar ética e rentabilidade, preservando a confiança de seu público. Ao mesmo tempo, a Anbima e outras organizações de mercado reforçam a necessidade de educação financeira como uma ferramenta essencial para que os brasileiros saibam distinguir entretenimento e investimento.
Essa tensão entre lucro imediato e ética nas parcerias deve ser o foco de discussões regulatórias no Brasil, para garantir que o marketing de apostas online seja feito com responsabilidade.